15/05/2010

A PROSPERIDADE DOS MAUS

Certo dia um homem chamado Asafe entrou numa profunda crise existencial e religiosa. Motivo: ele só via o mal prosperar e o bem naufragar, o errado avançar e o certo retroceder, a mentira se agigantar e a verdade se apequenar. Esse testemunho está registrado no salmo bíblico de número 73, cujo tema, na minha Bíblia, é “o problema da prosperidade dos maus”. Quase parafraseando o salmo, a história é mais ou menos a seguinte:

No salmo 73, Asafe começa afirmando a bondade de Deus para com as pessoas de coração limpo. Depois, relembra a época quando ele entrou numa violenta crise interior. O problema era o problema que angustia todas as gerações, desde que o mundo é mundo, a saber, o sucesso social, econômico e político das pessoas perversas. Essas pessoas, segundo Asafe, não experimentavam as mazelas vivenciadas pela maioria das pessoas na sociedade. Nenhum tipo de preocupação, nenhum tipo de estresse, nenhuma aflição. Pelo contrário, boa saúde, sempre tranqüilas e aumentando as riquezas todo dia.

Bajulados pelos amigos do dinheiro, da influência e da fama, de seus corações brotavam elucubrações fantasiosas e perversas. Assim seria natural para elas compartilharem com os seus pares a malícia de suas palavras e as atitudes opressoras contra o próximo. Asafe ficou abalado e perplexo quando percebeu que os tais donos do mundo, não se contentando com a altivez de espírito e de atitudes, também tinham como prática afrontar verbalmente o próprio Deus!

Disse Asafe: assim não dá! Não vale a pena ser honesto! Não vale a pena fazer a coisa certa, respeitar o próximo, servir a Deus! Penso que ele estava querendo dizer que, na sua experiência, mesmo lutando para se manter íntegro, quanto mais praticava o bem, mais assombração aparecia. A vida parecia premiar o perverso e castigar o honesto. Dessa forma, no momento do vacilo da fé, a solução seria cair na malandragem também.

Considerando que é possível uma pessoa correta manter-se na linha da decência, antes do passo em falso Asafe resolveu ir à igreja falar com Deus, e saber Dele a respeito daquela anomalia social. A conversa foi franca. A resposta foi direta. A restauração da alma de Asafe foi extraordinária. Disse Deus: o lugar do homem mau é um tapete. É isso mesmo: um tapete! Porém um tapete que vai ser puxado por mim, pessoalmente. Na linguagem bíblica, os que prosperam fazendo maldades contra o próximo serão colocados por Deus em “lugares escorregadios, para queda e destruição”. Resumo da ópera: na perspectiva das pessoas perversas, vale a pena andar errado, fazer o errado, usufruir do errado. Na perspectiva divina, quem anda no errado, anda em lugares escorregadios preparados pelo próprio Deus cuja parada final é a destruição dos sonhos, dos prazeres, da história e da alma.

Asafe respira fundo e diz: que alívio! Vou caminhar com mais prazer no caminho do bem, porque tenho Deus comigo, na minha família, nos meus negócios, e quando partir serei recebido com festa na Sua casa celestial!

Que Deus nos ajude a caminhar no caminho do bem!

Luiz Carlos Porto

Pastor Presbiteriano

Membro da Academia Imperatrizense de letras

19/06/2009

Pastor Porto

O DEUS QUE INTERVÊM


Essa história aconteceu em Israel em alguns séculos antes de Cristo. O rei de Israel se chamava Ezequias. Pelo fato da nação israelita ser teocrática, isto é, ter a condução do governo nacional dirigida diretamente por Deus através dos oráculos sagrados, em cada época existia um ou alguns profetas que auxiliavam o rei de conformidade com a vontade expressa de Deus. Pois bem, no tempo de Ezequias o profeta principal era Isaías, por sinal, o maior profeta da história de Israel.

Naqueles tempos as nações se auto-afirmavam não pelo desenvolvimento cultural e econômico do seu povo, e sim pelo número de outras nações conquistadas pela guerra. Povo que não guerreava era povo sem identidade, sem perspectiva, sem visão de futuro.

Você sabe que em todos os ciclos da história sempre tivemos algumas nações consideradas “xerifes do mundo”. Normalmente pela força das armas e dos seus exércitos elas deram e dão o rumo da economia, ideologia e política para muitos outros povos. Como exemplo, e para relembrar, cito a Pérsia, Assíria, Babilônia, Roma, Grécia, Estados Unidos, e possivelmente, num futuro próximo, a China.

Durante o reinado de Ezequias quem mandava no pedaço era a Assíria. Quando saía pra guerra deixava um rastro de destruição e sempre mais uma nação escravizada. Já que não possuíam exércitos suficientes para enfrentar os assírios, os reis daqueles povos apelavam para seus deuses. Tudo em vão. Os deuses eram incapazes de conter o ímpeto imperialista de Senaqueribe, rei da Assíria. Até os deuses morriam na guerra.

Senaqueribe decidiu que era a vez de anexar ao seu reino a pequena nação de Israel. Depois de dominar algumas cidades israelitas o comandante do exército assírio chega às portas de Jerusalém para dar o ultimato, ou seja, a ordem de rendição. A alta cúpula do rei de Israel saiu da cidade para ouvir os termos da rendição, enquanto a multidão da cidade sagrada observava de sobre os muros o encontro que poderia determinar o fim da história de um povo.

Os termos da rendição determinado pelos assírios foi o gol contra que mudou o curso de uma história previsível. O comandante assírio disse com toda a soberba, própria de quem pensa que pode passar por cima dos outros: “porventura algum dos deuses das nações que nós destruímos puderam fazer alguma coisa para impedir a nossa vitória? Porque assim como fizemos com os outros povos faremos também com Israel, pois não há deus que possa nos deter! E nem pense o rei Ezequias em continuar enganando o seu povo, dizendo que o seu Deus é capaz de salvar Jerusalém!”

De posse do termo de rendição, com todas as afrontas ao Deus de Israel, o rei Ezequias se dirige ao templo, abre o documento diante de Deus, chora profundamente e faz uma oração expressando grande confiança Naquele que já tinha feito algumas extraordinárias intervenções ao longo da história dos israelitas. Logo depois manda informar o profeta Isaías a respeito dos cruéis intentos de Senaqueribe.

Naquela época o profeta tinha uma intimidade mais palpável com Deus. Sabe o que este disse para Isaías? “Eu sou o Deus criador do céu e da terra e fui comparado a deuses que não existem. Na verdade, fui afrontado pelo rei da Assíria tanto quanto o povo. Afirmo que Senaqueribe voltará pelo mesmo caminho de onde veio, e nenhum dano sofrerá Jerusalém!” Naquele mesmo dia todo o exército assírio foi estranha e sobrenaturalmente dizimado. Ao fugir, Senaqueribe foi assassinado pelos próprios filhos quando cultuava os seus deuses- que não puderam lhe dar vitória e nem lhe salvar!

Diante da história de um povo que ainda sobrevive bravamente, pergunto: Será que o Criador está preocupado em intervir apenas em nossos dramas pessoais, como fez maravilhosamente na vida do secretário da Indústria e Comércio, Júlio Noronha? Penso que não. Intervenções de Deus na história dos povos não são tão incomuns assim. Muitos sistemas de poder, opressores e injustos já foram desbaratados pelo mundo afora. Todos eles têm um fim determinado. Nem sempre pelo envelhecimento dos seus líderes. Às vezes por uma extraordinária intervenção divina. Ninguém perde nada em acreditar nisso. Eu tenho muitos motivos para continuar crendo no Deus Emanuel, isto é, naquele que está bem presente.


Pastor Porto

Membro da Academia Imperatrizense de Letras.